quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Glenn Herbert Gould (25 de setembro de 1932; 4 de Outubro de 1982) foi um genial e renomado pianista canadense, conhecido especialmente por suas gravações de Johann Sebastian Bach. Suas gravações das Variações Goldberg são consideradas um marco na música ocidental do século XX. Gould abandonou as apresentações ao vivo em 1964, dedicando-se, desde então, apenas às gravações em estúdio, pelo resto de sua carreira, com um estilo de tocar muito peculiar, muitas vezes excêntrico.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O IMPREVISTO

No turbilhão dos mundos, como remota sombra da terra, surge a velha CONCIÊNCIA.
Diante dela desenrola-se a visão misteriosa do Cosmo.
Envolve-se a poalha liminosa do Além.
E, dentro desse turbilhão que nunca se acalma e rodopia na vertigem do movimento infinito, a velha conciência descobre a Alma do artista, perdida na voragem que a impele; separa-a do tumulo das coisas, arranca-a do abismo, conduzindo-a cuidadosamente ao solo.Mostra-lhe, então, a majestade do tempo e do espaço, a beleza das coisas criadas e incriadas.
A Alma do artista, voltada para si mesma, contempl serenamente o painel formidável.
Assiste a queda dolorosa das cintilações dos outros mundos, a reverberação da matéria transitória, a transfusão das lágrimas mortais em pingos trêmulos de ondeante orvalho; vê rolos de nimbos que se espreguiçam molemente, desnudando surpresas de astros cadentes, e vai assim galgand, com o olhar, aos poucos, a imensacurva do ocaso...
Unido-se, lentamente, a silenciosa harmonia da natureza, a sua alegria e ao seu sofrimento, deixa cair gotas e gotas do prazer e da dor, na muda ascensão dos sentidos extasidos...
Então, a Conciência, despertando-a desse doce e terrível letargo, mostra-lhe a linha do nível dizendo-lhe:
- Esta, condenda pelo destino, sofre a fatalidade, a imponderável fatalidade da monotonia. Ela é a própria Humanidade!... Não se curva nem se adapta, não vibra e não se move...
E a Alma do artista, como fulgor da própria luz que dela emana, vislumbra, através de um cristal sutil e étero, um vasto cenário. vultos, massas e coisas que se equilibram na atração mútua da pórpria gravidade ( pretedentes talvez e imagens, seres e alma ) movem-se no ritimo doloroso de bonecos ridículos, incapazes de se elevarem acima do nivel cósmico, onde vagueiam as almas do Dom...
Brada, então, a velha Conciência:
-Agora, és um mortal, conheces a Humanidade.
-Podes ver a matéria das coisas, porquejá sentes a vida através dos seus fenômenos!...
-Caminha... Caminha...
-um pouso certo terás!
-Serás uma vez imortal!
-Chegaste a posse do Espirito fugitivo!...
-Prossegue!... Prossegue!... Porque já és a Alma de um Artista.

Heitor Villa-Lobos